Calagem: um procedimento simples e determinante para a produção de culturas vegetais.
De certo você já se deparou com uma produção com o desenvolvimento abaixo do esperado, mesmo após um denso planejamento de plantio. Surpreendentemente, o problema pode estar na falha de execução de um procedimento simples e comum nas fazendas: a calagem.
Inegavelmente, com tantas atividades dentro da fazenda, a calagem pode até parecer só um detalhe. Mas não é bem assim!
É fato que, os solos brasileiros são ricos em acidez e alumínio, características tóxicas para plantas. Por isso, a calagem bem feita pode fazer grande diferença na produtividade final.
Importância da calagem
Sobretudo, a calagem tem dois objetivos principais. Primeiro, diminuir a acidez, ou seja, aumentar o pH do solo. Segundo, fornecer cálcio e magnésio, minerais importante ao desenvolvimento das plantas.
Importância do cálcio
Veja que a calagem está diretamente ligada a absorção de nutrientes pela planta e, por conseguinte, ao seu desenvolvimento.
A importância do cálcio no solo está no fato de que ele é capaz de estimular o crescimento das raízes. Com isso, ocorre aumento do sistema radicular e uma maior exploração da água e dos nutrientes do solo. Consequentemente, auxilia a planta na tolerância à seca.
Importância da correção da acidez
Fundamentalmente no Brasil, a calagem tem papel determinante, já que nossos solos são ácidos e com quantidade significativa de alumínio.
Principalmente, a acidez é representada pela presença de dois componentes (íons H+ e Al+3). Ao passo que esses componentes tem origem pela intensa lavagem e lixiviação dos nutrientes do solo. Ainda, pela retirada dos nutrientes catiônicos pela cultura sem a devida reposição e, pela utilização de fertilizantes de caráter ácido.
O fato é que os nutrientes do solo tornam-se disponíveis para absorção pelas plantas em faixa de pH que varia entre 5,5 a 6,5. É por isso, que corrigir a acidez do solo é tão determinante para o bom desenvolvimento das culturas.
Por tudo, a calagem elimina a acidez, aumenta a CTC (Capacidade de Troca de Cátions) e melhora o aproveitamento de nutrientes pelas plantas. Ademais, a calagem neutraliza o alumínio, que é tóxico para as culturas.
Benefícios da calagem
Dentre os principais benefícios de um processo de calagem bem realizado, podemos citar:
- Elimina a acidez do solo;
- Fornece cálcio e magnésio;
- Estimula o crescimento radicular (Ca);
- Aumenta a disponibilidade de fósforo;
- Reduz disponibilidade de alumínio e manganês;
- Aumenta a mineralização da matéria orgânica;
- Aumenta a agregação do solo, podendo reduzir a compactação.
Também, a calagem atua ao longo dos anos no plantio direto, amenizando os efeitos nocivos da acidez em camadas mais profundas do solo. Isso é importante porque a acidez nas camadas subsuperficiais, em caso de níveis tóxicos de alumínio e/ou deficiência de cálcio, pode impedir o desenvolvimento das raízes.
Como fazer?
É importante salientar que processo da calagem é realizado em etapas e deve ser planejado. De acordo com as condições climáticas da região de cultivo, e do sistema de plantação, a calagem pode ter melhores resultados com pequenas variações no sistema padrão. Veja a seguir as etapas da calagem:
- inicialmente realiza-se a coleta de amostras do solo (que é feita em duas etapas). A primeira é feita logo após a colheita de verão. A segunda é realizada um pouco antes do preparo do solo para as culturas anuais ou após o fim das chuvas para culturas perenes;
- em seguida, realiza-se a definição do tipo de calcário. Este processo é realizado por meio da análise do solo que permite uma avaliação sobre qual calcário escolher;
- posteriormente ocorre a definição da dose de calcário. Esta etapa é feita por meio de fórmulas simples e de acordo com a análise do solo;
- então efetua-se a compra do produto a ser aplicado, baseada em suas características e custo;
- Finalmente, ocorre a aplicação do calcário. Em geral, a calagem deve ser realizada 3 meses antes do plantio da cultura.
Aplicação do Calcário
Para que a calagem tenha todos os benefícios anteriormente listados, é importante que o calcário alcance profundidade no solo. Para tal, o calcário deve ser distribuído a lanço e incorporado uniformemente ao solo, até a profundidade de 17 a 20 cm.
A fim de melhores resultados, no cultivo convencional a aplicação é incorporada. Isso quer dizer que, a aplicação do calcário é seguida de operações de aração e gradagem.
Por outro lado, no sistema plantio direto, a correção da acidez do solo é feita por meio da aplicação de calcário na superfície sem incorporação. Para isso, é recomendada a utilização de um calcário mais finamente moído, facilitando a reação do calcário com o solo e, consequentemente, maior efeito da calagem.
Normalmente, a calagem superficial não tem efeito rápido na redução da acidez do subsolo. Por isso, o calcário deve ser aplicado o mais cedo possível, antes mesmo dos 3 meses anteriormente citado.
Por outro lado, se a região tiver um período de muita chuva e outro de seca, o ideal é que calagem seja realizada antes do término do período chuvoso, ainda que seja 4 ou 5 meses antes da safra começar. Desse modo, haverá tempo do corretivo reagir para promover as mudanças benéficas ao solo que será cultivado no próximo período de chuvas.
Cuidado na dose
Cabe ressalvar que a supercalagem, ou seja, a aplicação de doses de calcário acima das recomendáveis, provoca dispersão da argila do solo. Isto torna-se um problema quando esta migra para os poros abaixo da camada de 20 cm, provocando seu entupimento. Por consequência, haverá a erosão da porção mais superficial do solo e com maiores concentrações de nutrientes. Além disso, a supercalagem provoca a mineralização excessiva da matéria orgânica do solo, diminuindo seu teor, o que compromete a sustentabilidade da produção.
Seguindo-se as etapas estabelecidas, o produtor terá possibilidade de maior produtividade das culturas. E isso significa maior rentabilidade e mais qualidade de vida para sua família, com maior cuidado com o meio ambiente.
Fontes de pesquisa
BARBOSA FILHO, M.P.; SILVA, O.F. Aspectos agro-econômicos da calagem e da adubação nas culturas de arroz e feijão irrigados. Pesq. agrop. bras.,29:1657-1667, 1994.
SOUSA, D.M.G.; LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 416p.
