A busca por alternativas sustentáveis na produção de proteínas animais tem impulsionado avanços significativos na biotecnologia. No Algarve, região no extremo sul de Portugal, um projeto inovador intitulado INOVACEL está utilizando microalgas para transformar a forma como produzimos proteínas, trazendo soluções mais sustentáveis e éticas para a indústria alimentar.
O projeto INOVACEL e a revolução das microalgas
Com um investimento de 1,3 milhões de euros, financiado pelo programa Algarve 2030, Portugal 2030 e pela União Europeia, o INOVACEL é fruto de uma colaboração entre a empresa Necton, os laboratórios colaborativos S2AQUAcoLAB e Greencolab, e o Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve. O principal objetivo do projeto é desenvolver métodos inovadores para a produção de proteínas alternativas, utilizando microalgas como base.
As microalgas possuem um grande potencial para substituir ingredientes tradicionais na nutrição humana e animal. Por serem altamente nutritivas e exigirem menos recursos naturais para o cultivo, elas oferecem uma alternativa viável e de baixo impacto ambiental à produção convencional de proteínas.
Aquacultura celular e o papel das microalgas
Um dos principais diferenciais do INOVACEL é o desenvolvimento de linhas celulares derivadas de organismos marinhos para a produção de proteínas. Essas células podem ser cultivadas em laboratório, eliminando a necessidade da criação de animais para a obtenção de proteínas. Além disso, o projeto busca substituir o soro animal – comumente utilizado em culturas celulares – por soro de microalgas, tornando o processo ainda mais sustentável e acessível economicamente.
A aquacultura celular, ao utilizar microalgas como meio de crescimento celular, permite a produção de proteínas sem a dependência de produtos de origem animal, reduzindo significativamente o impacto ambiental da indústria alimentícia.
Biorremediação: Reaproveitamento sustentável de nutrientes
Outro aspecto inovador do projeto é a aplicação da biorremediação com microalgas no tratamento de efluentes resultantes da produção de proteínas. O objetivo é reciclar os nutrientes desses resíduos e reintegrá-los ao ciclo produtivo, minimizando o desperdício e promovendo uma economia circular mais eficiente.
Ao utilizar microalgas para esse fim, o projeto INOVACEL não apenas melhora a eficiência da produção, mas também reduz o impacto ambiental ao evitar a contaminação de corpos d’água e solos com resíduos orgânicos.
O Algarve como centro de inovação em biotecnologia
Com o avanço do INOVACEL, o Algarve se posiciona na vanguarda da ciência aplicada à aquacultura celular. O projeto fortalece a região como um polo de pesquisa e inovação sustentável, promovendo soluções que podem ser replicadas globalmente.
Além de impulsionar a economia local, a iniciativa está alinhada com as tendências mundiais de busca por alternativas alimentares que minimizem o impacto ambiental. Com isso, Portugal dá um passo significativo rumo a um futuro onde a biotecnologia e a sustentabilidade caminham lado a lado.
Benefícios das microalgas na produção de proteínas
O uso de microalgas na produção de proteínas apresenta diversas vantagens, incluindo:
- Baixa emissão de carbono: O cultivo de microalgas requer menos espaço e reduz significativamente a pegada de carbono quando comparado à pecuária convencional.
- Eficiência nutricional: As microalgas são ricas em proteínas, vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais, tornando-as uma excelente fonte alimentar.
- Uso reduzido de água e solo: Enquanto a produção de carne exige grandes quantidades de terra e água, as microalgas podem ser cultivadas em ambientes controlados com consumo mínimo de recursos.
- Produção contínua: Diferente da pecuária, que depende de ciclos de crescimento dos animais, as microalgas podem ser colhidas continuamente, garantindo uma oferta estável de proteínas.
Aplicações ambientais das microalgas
As microalgas desempenham um papel crucial na mitigação de impactos ambientais. Elas são capazes de realizar a biofixação de CO₂, contribuindo para a redução dos gases de efeito estufa na atmosfera. Além disso, possuem a capacidade de remover matéria orgânica e metais tóxicos de efluentes, atuando na purificação de águas residuais.
Outra aplicação relevante é a produção de biocombustíveis, como biodiesel e bioetanol, a partir de microalgas. Essa alternativa energética renovável pode reduzir a dependência de combustíveis fósseis e diminuir a emissão de poluentes.
Avanços tecnológicos na produção de proteínas de microalgas
Empresas ao redor do mundo estão investindo em tecnologias inovadoras para otimizar a produção de proteínas a partir de microalgas. A Brevel, por exemplo, cultiva suas microalgas em biorreatores internos por meio da fermentação de açúcares, aplicando simultaneamente luz para otimizar a fotossíntese. Essa abordagem permite a geração de microalgas ricas em nutrientes com rendimentos abundantes, sem a necessidade de modificação genética.
Outra empresa, a Arborea, utiliza microalgas e luz solar para criar proteínas carbono-negativas, contribuindo para a sustentabilidade ambiental. Recentemente, a Arborea captou 5,2 milhões de dólares para impulsionar sua tecnologia sustentável.
Desafios e perspectivas futuras
Apesar dos inúmeros benefícios, a produção de proteínas a partir de microalgas enfrenta desafios, como a otimização dos processos de cultivo e extração, além da necessidade de escalonamento para atender à demanda global. No entanto, com investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento, espera-se que essas barreiras sejam superadas, permitindo que as microalgas se tornem uma alternativa viável e acessível à proteína animal tradicional.
À medida que tecnologias como a aquacultura celular evoluem e novas aplicações das microalgas são descobertas, o setor caminha para um futuro mais sustentável. Projetos como o INOVACEL são fundamentais para impulsionar essa mudança e consolidar as microalgas como um recurso estratégico para a segurança alimentar e a preservação ambiental.
A produção de proteínas a partir de microalgas representa uma das soluções mais promissoras para os desafios da segurança alimentar e da sustentabilidade. O projeto INOVACEL demonstra como a ciência e a inovação podem oferecer respostas concretas para um sistema alimentar mais eficiente e ambientalmente responsável.
À medida que a demanda por fontes de proteína alternativas cresce, iniciativas como essa mostram que o futuro da alimentação pode estar na biotecnologia, promovendo uma produção mais ética e equilibrada com os recursos do planeta.
Referências Bibliográficas
Centro de Informação de Biotecnologia (CIB). Projeto no Algarve usa microalgas para produzir proteínas animais alternativas. Disponível em: https://cibpt.org/2025/02/04/biotecnologia-projeto-no-algarve-usa-microalgas-para-produzir-proteinas-animais-alternativas/
Barlavento. INOVACEL quer liderar produção de proteínas sem impacto ambiental a partir de microalgas. Disponível em: https://www.barlavento.pt/inovacel-quer-liderar-producao-de-proteinas-sem-impacto-ambiental-a-partir-de-microalgas/
