As Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (EET) são doenças neurodegenerativas que afetam diretamente a estrutura do sistema nervoso central. São causadas pelo acúmulo de proteínas infecciosas, originadas a partir de alterações em proteínas sadias do hospedeiro. As EET ocorrem em diversas espécies, sendo inalteravelmente fatal após a permanência do estado clínico. Atualmente não há tratamento específico e é de difícil diagnóstico, constantemente só sendo possível identificar quando os sinais degenerativos finais começam a se manifestar com maior destaque.
A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) se enquadra dentro das EET, naturalmente acometendo bovinos domésticos (gêneros Bos e Buballus), e experimentalmente conseguindo também infectar, por exposição parenteral ou oral, outros mamíferos como camundongos, ovinos, caprinos, primatas não humanos e mustelídeos.
É sobre essa doença que falaremos hoje.
Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) – A Doença da vaca louca
A Encefalopatia Espongiforme Bovina, mais conhecida como Doença da vaca louca, por seus hospedeiros manifestarem sintomas como agressividade e tremores musculares, foi diagnosticada pela primeira vez em 1985, no Reino Unido, quando ficou mundialmente conhecida após um surto que resultou na suspensão do consumo de carne bovina em todo o país.
A EEB é causada pelo acúmulo de uma proteína anormal infecciosa, chamada Príon (PrPsc), um agente transmissível não convencional que se origina a partir de uma modificação pós-translacional de uma proteína normal do hospedeiro. O Príon é o único agente infeccioso conhecido que não tem genes e, por isso, não pode reproduzir-se como uma bactéria ou um vírus. As formas normais da proteína (PrPc) são convertidas em formas anômalas (PrPsc), provenientes de um enovelamento incorreto que leva a uma diminuição de estruturas alfa hélice e um aumento de folhas beta na estrutura terciária da proteína (Figura 1), replicando-se também com a estrutura anormal e originando cópias do Príon, resistentes à protease. Assim se inicia uma reação em cadeia durante o longo período de incubação da doença.
A doença é caracterizada pela presença de lesões neurodegenerativas, por causa do longo período de incubação (em média de 4 a 5 anos) e pela ausência quase total de reações inflamatórias e imunológicas. O príon infeccioso não induz resposta imune, pois como é uma proteína anormal própria do animal, não é reconhecido como estranho pelo hospedeiro.
Uma característica intrínseca do agente da doença da vaca louca é sua resistência à inativação por meios químicos ou físicos, incluindo congelamento, radiação ultravioleta, enterrio, métodos comuns de desinfecção química ou por calor e degradação por enzimas proteolíticas, ainda hoje não existindo testes específicos para detecção da doença no animal vivo, sendo necessários testes post mortem em material encefálico.
A EEB não possui predisposição por raças ou sexo, porém se arremete principalmente em bovinos criados sob sistema de fornecimento de rações ou concentrados, como suplementação nutricional, devido ao risco de contaminação desses alimentos com subprodutos eventualmente infectados pelo agente da EEB, sendo os produtos obtidos de animais infectados a principal fonte de material infectivo, especialmente quando utilizado o sistema nervoso central.
Medidas de prevenção e vigilância
Devido à complexidade epidemiológica da EEB, além do controle da importação de carne e da vigilância da doença, as medidas de atenuação de risco são fundamentais para a manutenção sanitária de menor risco para a doença da vaca louca.
As medidas sanitárias que vêm sendo aconselhadas pelo Ministério da Agricultura (MAPA) junto a Secretaria da Agricultura Pecuária, Pesca e Agronegócio (SEAPPA) são fundamentadas no conhecimento científico internacional, além de recomendadas pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e pelo Comitê Científico do Mapa para Encefalopatias (CEET).
Dentre as medidas de prevenção para EEB realizadas podemos citar:
- Controle de movimentação e proibição de abate de bovinos importados de países de risco para EEB;
- Vigilância durante o abate de emergência e remoção de material de risco específico para EEB: Atualmente essas normas são aplicáveis nos matadouros sob inspeção federal (SIF) e nos matadouros sob inspeção estadual ou municipal;
- Remoção de material de risco específico para EEB: Quando a remoção não é feita de forma adequada, é significativa a presença de material de risco residual.
Somando a estas medidas, a fim de monitoramento do cumprimento à proibição do uso de proteínas de origem animal na alimentação de ruminantes, as seguintes medidas de fiscalização são aplicadas:
- Fiscalizações em estabelecimentos produtores de alimentos para animais;
- Fiscalização em estabelecimentos processadores de subprodutos animais (graxarias);
- Fiscalizações de alimentos em propriedades de criação de ruminantes.
A coleta de amostras de alimentos destinados a ruminantes para a realização de ensaio de detecção de traço de origem animal é uma das medidas mais importantes para o controle e monitoramento da EEB.
A Laborgene oferece serviços de análise de detecção de subproduto de origem animal em misturas de ingredientes e suplementação nutricional para alimentação de ruminantes, auxiliando na prevenção da presença de proteína animal na alimentação dos animais.
Entre em contato conosco e agende sua análise hoje mesmo!
Referências Bibliográficas
DIEHL, Gustavo Nogueira. Prevenção da encefalopatia espongiforme bovina (eeb) no Brasil. Secretaria da Agricultura Pecuária, Pesca e Agronegócio do Estado do Rio Grande do Sul (SEAPPA-RS). Informativo Técnico N°10 /Ano 01 – dezembro de 2010.
MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Sistema Brasileiro de de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia Espongiforme Espongiforme Bovina (EEB) – Cartilha EEB. 2014. Disponível em: https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/201701/09154734-pneeb-cartilha-eeb-nova-abr14.pdf. Acesso em: 02/03/2022.
SEMANA UNIVERSITÁRIA E ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, ISSN: 2316-8226. Centro Universitário de Mineiros – GO. Anal. Principais aspectos e atualidades sobre a encefalopatia espongiforme bovina no Brasil. v. 1. n. 1 (2021). Disponível em: https://publicacoes.unifimes.edu.br/index.php/anais-semana-
universitaria/article/view/1383. Acesso em: 2 mar. 2023.