No ano de 2024, Victor Ambros e Gary Ruvkun receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por sua revolucionária descoberta dos microRNAs, pequenas moléculas de RNA que desempenham um papel essencial na regulação genética. Este avanço marca o terceiro prêmio Nobel na área da biologia do RNA em apenas cinco anos, reforçando a relevância dessa área para a ciência moderna. Antes deles, Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier foram laureadas em 2020 pela descoberta do RNA CRISPR, e Katalin Karikó e Drew Weissman, em 2023, pelas vacinas de RNA mensageiro.
A descoberta dos microRNAs remonta a 1993, quando, utilizando o modelo Caenorhabditis elegans, Ambros e Ruvkun identificaram pequenas moléculas de RNA não codificantes com 20 a 24 nucleotídeos, responsáveis por regular a expressão gênica ao se ligarem a RNAs mensageiros complementares. Este mecanismo revolucionário revelou uma nova camada de controle biológico que desafiou o dogma central da biologia molecular.
O impacto transformador dos microRNAs
Tradicionalmente, o RNA era visto como mero intermediário entre o DNA e a produção de proteínas. Contudo, como destacou Sandra Correia, diretora do Departamento de Proteção de Culturas Específicas do InnovPlantProtect (InPP), “os microRNAs demonstraram a capacidade das células de controlar a expressão gênica, ativando ou silenciando a produção de proteínas específicas”. Essa descoberta abriu portas para terapias personalizadas baseadas em RNA, direcionadas a doenças como câncer e condições cardiovasculares.
O papel dos microRNAs não se limita aos seres humanos. Em plantas, os primeiros microRNAs foram identificados em Arabidopsis thaliana em 2002, e desde então, mais de 8.500 moléculas desse tipo foram descobertas em mais de 70 espécies. Os microRNAs são cruciais na regulação da homeostase celular, controle do desenvolvimento e respostas a estresses ambientais.
Uma nova era para a biologia molecular
A regulação gênica mediada pelos microRNAs é conservada em organismos superiores, incluindo plantas e animais, destacando sua importância evolutiva. Além disso, os microRNAs apresentam padrões de expressão altamente específicos dependendo do tipo de tecido e do estágio de desenvolvimento. Isso os torna ferramentas valiosas para entender a biologia molecular e desenvolver novas tecnologias biotecnológicas.
Reconhecimento e relevância
A premiação de Ambros e Ruvkun pelo Nobel de 2024 sublinha a importância da pesquisa fundamental. Estudos que começaram em organismos simples, como C. elegans, agora oferecem uma base sólida para inovações em medicina e biotecnologia. Essa sucessão de prêmios Nobel na área do RNA ressalta como investigações básicas podem ter implicações de longo alcance, transformando nosso entendimento e aplicação da biologia.
Os microRNAs, assim como outras descobertas na biologia do RNA, continuam a moldar a ciência contemporânea. Seus impactos ultrapassam os laboratórios e oferecem perspectivas reais para soluções inovadoras na saúde e na agricultura, reforçando a relevância da ciência em nossa vida cotidiana.
Referências bibliográficas
CIB. Nobel: A investigação em RNA arrecada mais um prêmio Nobel. Centro de informação de biotecnologia. Disponível em: https://cibpt.org/2024/10/09/nobel-a-investigacao-em-rna-arrecada-mais-um-premio-nobel/. Acesso em: 25 Dez. 2024.
Jornal da Unesp. Nobel de Medicina de 2024 premia descoberta de microRNAs. Disponível em: https://jornal.unesp.br/2024/10/07/nobel-de-medicina-de-2024-premia-descoberta-de-micrornas/. Acesso em: 25 Dez. 2024.